Por Enio Squeff (publicado na “Folha de S. Paulo” – Música/crítica – em 2 de novembro de 1983)
ENCONTROS SINFÔNICOS DA PRIMAVERA – 12º Encontro. Programa: Serenata nº 2, em Lá Maior, op. 16; Rapsódia para contralto e coro masculino, op. 53, solista Margarita Schack; sinfonia nº 3, em Fá Maior, op. 90. Regente, Benito Juarez.
Os concertos que a sinfônica estadual está realizando como parte dos “Encontros da Primavera” não vêm satisfazendo a “gregos” e “troianos”. Mas se uns e outros se equivalem em número, a expressão talvez seja exagerada. Digamos que para meia dúzia de “gregos”, nem todos os concertos satisfazem; para a esmagadora maioria dos “troianos”, porém, a coisa está ótima. Nesta segunda-feira com chuva e tudo o Cultura Artística estava lotado. Nem todos os possíveis “gregos” – críticos e músicos – gostaram. Mas os “troianos”, ou o público em geral, aplaudiu delirantemente.
Melhor para o maestro Benito Juarez e para os músicos da Osesp evidentemente. A cantora Margarita Schack tem recursos reconhecidos, e foi bem; o maestro Benito Juarez e seus músicos são igualmente competentes – não duvido que fariam muito melhor. A questão, porém, não é essa. Se for feito em levantamento do que algumas instituições musicais fizeram ao longo deste ano, sobra muito para os espetáculos de fora; ficamos a dever, porém, para o que deveria ser feito aqui dentro.
Num cotejo entre o que produziu a sinfônica Municipal e a Estadual, a Osesp leva de ganhada em quase tudo: cumpriu seu programa sem grandes percalços; superou a indiferença oficial com o máximo que pôde. O exemplo ainda são os programas impressos. Não obstante a colaboração do conservatório Musical do Brooklin, são raras as vezes em que sobra algum para certa parte do público. No campo da divulgação, afora o que a imprensa noticia, não há propaganda. Fica-se a conjecturar que o Estado é perdulário como quer o FMI, e não deixa mesmo de sê-lo: investe milhões num equipamento caro como a Osesp, mas não tira da orquestra o máximo que ela pode dar.
O público parece já ter se acostumado: na falta de informações sobre o que a orquestra vai executar, comparece em massa ao Cultura Artística. Se a isso somarmos as retransmissões da TV Cultura, pode-se afirmar que o público da Osesp hoje equivale ao de certos espetáculos isolados de rock. Não é justificativa para a indiferença oficial. Mas não é também para a falta de qualidade que contudo pode satisfazer aos “troianos”. Limito-me à constatação de que para os próximos anos as opções musicais vão ficar entre os discos de excelente qualidade que a Polygrama, por exemplo, vai nos fornecer e a música produzida ao vivo. Claro, a vida musical de um país não são os discos que consome (encontrei excelentes gravações em La Paz, na Bolívia). É a qualidade de seus músicos e de suas orquestras. Logo, o futuro aos músicos e a seu desempenho pertence. Portanto, os “troianos” também têm importância. E razão.